Eu queria tudo pra ontem. A nova carreira, a clareza absoluta, a renda estável, o reconhecimento. Mas a verdade é que transição não é salto — é travessia.
E travessias pedem algo que nunca me ensinaram a ter: paciência.
Quando decidi recomeçar depois dos 40, achei que o mais difícil seria romper com o que eu já conhecia. Deixar pra trás a empresa que construí, o título que ocupava, a zona de conforto. E sim, foi difícil. Mas o que mais tem exigido de mim nessa nova fase não é coragem — é tempo. Tempo pra construir algo novo do zero. Tempo pra entender quem eu sou agora. Tempo pra aceitar que nem sempre vou saber o próximo passo.
⏳ O tempo entre o que fui e o que ainda não sou
Existe um lugar silencioso e desconfortável entre o fim de uma versão nossa e o nascimento da próxima. É o território da dúvida, da instabilidade, do “será que eu fiz a escolha certa?”. E nesse território, não há mapa. A gente acorda num dia acreditando que vai dar tudo certo. No outro, se pergunta se jogou fora a estabilidade por um capricho.
Não é fácil. Principalmente quando você já passou dos 40 e sente que não tem mais tanto tempo “pra perder”. A sociedade cobra urgência. E dentro da gente, essa pressa se transforma em angústia. Mas hoje eu entendo: a pressa me fez repetir padrões, a paciência está me permitindo criar novos.
💡 O digital é novo, mas eu não sou
Entrar no meio digital foi a minha escolha. E foi também um choque. Porque, de repente, eu era novata de novo. Tive que reaprender vocabulário, ferramentas, estratégias, comportamento de consumo, algoritmos. Eu, que já tinha liderado equipe, vendido milhões, fechado contratos, precisei reaprender a ser iniciante.
E isso mexeu com o meu ego.
A maturidade me deu muitas ferramentas — repertório, sensibilidade, visão de longo prazo. Mas me tirou a tolerância para fracassos pequenos. Eu não queria errar publicando um post. Não queria parecer amadora. Queria que meu novo caminho começasse já com aplausos. E isso é pedir o impossível.
Hoje, aos poucos, estou aprendendo que recomeçar é aceitar parecer iniciante. Mesmo depois dos 40.
💭 Não saber ainda é um lugar válido
Aos 20, a gente diz “não sei o que quero ser quando crescer” e todo mundo ri. Aos 40, a mesma frase causa desconforto. Mas eu tenho dito. E tenho sentido o desconforto. Porque sim, eu tenho noção do que quero construir — mas nem tudo está claro ainda.
E tudo bem.
Não saber ainda também é um tipo de sabedoria. É o espaço necessário pra experimentar, testar, observar, afinar. E se eu me permitir habitar esse “não saber” com respeito e paciência, posso até ouvir o que a pressa me impediria de escutar: minha intuição.
🧘♀️ O que me sustenta no meio do caminho
Pra não desistir nos dias em que tudo parece estagnado, eu tenho buscado pequenas âncoras. E nenhuma delas é sobre produtividade. São sobre presença. Sobre cuidado.
- Eu escrevo. Não pra vender, mas pra entender o que estou sentindo.
- Eu me movimento. Caminhada, respiração, silêncio.
- Eu me conecto com outras mulheres que também estão em transição. Porque a solidão da reinvenção pode ser cruel se não for compartilhada.
- Eu celebro o mínimo. Um post publicado. Uma ideia anotada. Uma nova seguidora que disse “me senti tocada”.
Essas pequenas vitórias são sementes. E hoje eu sei: nada floresce sem tempo. Nem eu.
💸 A pressão financeira existe — e eu não vou romantizar
Tem um ponto que a gente precisa falar com franqueza: paciência é um privilégio quando se tem dinheiro guardado. Eu tive que reorganizar completamente minha vida financeira pra aguentar esse momento de incerteza.
Reduzi custos. Troquei planos. Cortei supérfluos. E, ao mesmo tempo, criei estratégias pra ter renda mesmo enquanto o novo ainda não se consolidava. Isso exigiu humildade. Criatividade. E a decisão de não me comparar com quem está em outro ponto da estrada.
Eu não romantizo o recomeço. Ele exige coragem, mas também estratégia. E cada passo financeiro que consegui dar com consciência foi o que me deu espaço pra não desistir.
🔥 Entre a pressa de acertar e o prazer de construir
Aos poucos, algo bonito tem acontecido: comecei a sentir prazer no próprio processo. Prazer em criar algo que é verdadeiramente meu. Que nasce da mulher que sou hoje — e não daquela que tentava se encaixar num modelo.
E isso me deu força.
A paciência, que parecia sacrifício, começou a virar escolha. Porque o que eu quero construir agora não é só uma nova carreira. É uma vida mais alinhada com quem eu sou. E isso não se improvisa. Isso se cultiva.
✨ A reinvenção silenciosa das mulheres que seguem
Esse texto é um lembrete. Pra mim. Pra você. Pra todas nós que estamos nos reinventando.
É um lembrete de que não precisamos ter todas as respostas. Que a lentidão pode ser fértil. Que o silêncio pode ser semente. E que há beleza em não saber o próximo passo — desde que a gente continue caminhando.
Porque a verdade é essa: você não precisa estar pronta pra seguir. Só precisa seguir.