Eu não sei exatamente quando começou.
Não teve anúncio, nem sirene.
Teve dias em que meu corpo parecia não ser mais meu.
Teve noites de calor no meio do frio.
Teve manhãs em que acordei cansada da própria existência.
E uma vontade absurda — quase física — de desaparecer por uns dias. Só pra organizar tudo aqui dentro.
Não estou na menopausa.
Mas a pré já chegou com os dois pés na porta.
🩸 A bagunça invisível
Não é só sobre menstruação que vem toda errada, sobre o peito que incha de repente, ou sobre o sono que foge.
É sobre o emocional escancarado, sobre a irritação que explode sem motivo, sobre uma tristeza meio sem nome, meio sem fim.
É sobre me sentir “fora do eixo” mesmo quando está tudo em ordem lá fora.
Eu, que sempre me considerei intensa, me vi exagerada.
E me julguei por isso.
Mas tem algo acontecendo dentro de mim — químico, hormonal, cíclico e brutalmente feminino.
🧠 O humor que dança ao som de um tambor interno
Às vezes, acordo querendo morder.
Outras, chorar.
E tem dias que só quero silêncio.
Não é drama. É real.
É meu sistema nervoso gritando em sinais que eu demorei a entender.
Fico mais sensível à luz, ao toque, a sons.
Mais impaciente com gente que fala demais ou que não respeita meu tempo.
Mais seletiva com tudo.
Inclusive comigo mesma.
💬 A palavra que mais tenho dito ultimamente? “Não”
Não quero sair.
Não quero fingir que está tudo bem.
Não quero sorrir se não estou afim.
Tenho me dado esse direito.
O direito de não performar, de não agradar, de não dar conta.
É libertador, mas também solitário.
Nem todo mundo entende que a loba precisa, às vezes, se recolher pra não morder quem ama.
🌿 Meu corpo mudou o ritmo — e eu tive que mudar também
Já não tenho a mesma energia de antes.
E não é preguiça. É biológico.
Me exercito, me alimento melhor, bebo mais água do que vinho…
Mas tem dias em que parece que o corpo quer dizer: “hoje não”.
E tá tudo bem.
Aprendi a respeitar meus limites — mesmo que isso signifique cancelar planos, sumir das redes, dizer “não vai dar”.
🌘 Essa fase não é um fim. É um início — desconfortável, mas necessário
A pré-menopausa me tirou da ilusão de controle.
Me obrigou a olhar pra dentro, de um jeito mais honesto e menos vaidoso.
E me fez encarar: o tempo está passando, sim.
Mas eu não estou perdendo nada.
Estou me transformando.
Ainda não sei tudo o que vem por aí.
Mas se tem uma coisa que essa fase me ensinou é que não dá pra atravessar esse portal fingindo ser quem eu era.
A loba que está nascendo aqui precisa de espaço, silêncio e cuidado.
E, às vezes, de sumir um pouco — pra depois voltar ainda mais inteira.
🩺 Cuidar de mim também é buscar apoio
Essa travessia tem sido minha, íntima, silenciosa.
Mas não faço sozinha.
Contar com uma ginecologista que me escuta e orienta tem sido fundamental.
Não é frescura, não é exagero — é saúde.
Se você está sentindo algo diferente, se reconheceu um pouco do que escrevi, procure acompanhamento.
Nosso corpo fala, e a gente merece ser ouvida.